Friday, March 15, 2013

Trama Virtual - Progressivo

Holofote – O Progressivo 09/03/2009

Produtor e MC, paulistano Rump é uma das principais apostas do novo hip hop

Por: Enrico Vacaro

Sob a alcunha de Rump, o produtor e MC Tiago Frúgoli despontou no ano passado como uma das principais promessas da cena hip hop alternativa baseada em São Paulo. Isso por causa de Progressivo, seu disco de estréia, gravado no estúdio da YB, onde Rump estagiou por um tempo. Ele é o responsável por todas as programações e grande parte dos teclados e sintetizadores presentes no álbum, que ainda trouxe participações de Mamelo Sound System e Espião (Rua de Baixo) – o disco está inteiro disponível para baixar na página dele.

Nascido e criado no reduto Pinheiros/Vila Madalena - que apesar de sua abertura para outros povos ainda guarda um pouco do espírito artístico-bohêmio propício para promover encontros como o de fãs de hip hop, - o rapaz começou cedo, quando tinha 14 anos. Agora, com 22, conta com um álbum e duas mixtapes na discografia.. É intrigante a vocação multi-tarefas de Tiago, que além de se dedicar às rimas, produz, toca teclado, sintetizadores e ainda compõe beats para os amigos. Inspirado pelos mestres J Dilla e Madlib, se jogou sozinho neste meio e desde cedo chamou a atenção de gente de respeito da cena hip hop, como Parteum, Espião, Munhoz e Rodrigo Audiolandro (Mamelo Sound System), com quem já fez várias parcerias.

O trabalho de Rump como produtor ganhou maior projeção no ano passado, com o lançamento de Urbanidades, disco de estréia do Projeto Mananda, um dos principais nomes do atual hip hop paulistano. Tiago contribuiu com o beat de “Um Por Todos”, uma das melhores do disco, no qual samplea Elis Regina numa base grandiosa.

Além da música, o MC, que um dia já se dedicou à capoeira, estuda chinês e, aqui, tem o costume de relatar suas inspirações.

Confira entrevista com Rump.

Como você começou?
Difícil dizer. Sou fascinado por música desde antes de começar a falar. Sempre ouvi meu avô tocando piano. Então é um longo processo que resulta em cada faixa que eu gravo hoje. Comecei a fazer rimas em 2001, por diversão. Em 2002 fiz meus primeiros beats, quando fazia estágio no estúdio YB. Eu já tinha estudado um pouco de música, mas isso só virou minha atividade principal em 2005.

Principais influências
J Dilla, Stevie Wonder, The Beatles, Herbie Hancock, Rakim, diversos filmes, livros e quadrinhos, minha namorada, minha família, meus avós, meus amigos.

Como define seu som?
Não posso realmente defini-lo, não tenho distanciamento para isso. É como tentar definir a mim mesmo. Talvez uma definição boa seja: um reflexo distorcido de tudo que vivo e toda arte que consumo.

Por que vale a pena ouvir você?
Não posso garantir que valha a pena para todo mundo, isso é relativo. Talvez parecesse mais lógico eu usar essa questão para promover meu trabalho, mas a verdade é: tudo que faço é muito pessoal. Meu compromisso quando gravo é comigo mesmo, com meus próprios padrões e minhas próprias exigências. É natural que algumas pessoas gostem mais do que outras de algo tão particular, mas sinto que a única maneira de tocar um ouvinte profundamente é fazendo algo que seja profundo para mim.

Você toca por quê?
Porque preciso, porque me faz bem. É um jeito de processar tudo o que vivo. Parte do que toco vira gravações. Eventualmente, junto parte das minhas gravações e as torno públicas.

Você tem algum CD ou EP gravados? Conte.
Coloquei na rua a mixtape "Beats, Samples & Transições" em 2006. Em 2008, o álbum "Progressivo". Na segunda metade de 2008 coloquei na internet a mixtape digital "Pós-Gressivo". "Progressivo" e "Pós-Gressivo" estão disponíveis na minha página da Trama Virtual.

Planos para o futuro
Continuar estudando música, produzindo meus sons e sons de outras pessoas e dando aulas. Tenho vontade de trabalhar com outros estilos além de Hip-Hop e de fazer trilhas.

Uma idéia de show ideal
Eu sou mais do tipo que sonha com o estúdio ideal, mas acho que o show ideal é um show no qual o equipamento de som é bom e o público está envolvido com o artista do começo até o final, independente de ser um show para 30 ou 3000 pessoas.

O que aconteceu de mais legal na sua carreira até agora?
Acho que o mais gratificante é saber que seu som faz bem para alguém. Cada vez que recebo um feedback sincero de alguém que me mostra isso, fico muito feliz. Fico feliz também de receber retornos positivos de pessoas que admiro.

Moleques se reúnem depois da escola e dali nascem bandas. Como é começar (cantando e produzindo), com a idade que você começou, no hip hop?
Eu comecei a rimar com 3 amigos do colégio. Saíamos juntos para fazer graffiti na época. Cada um tomou um outro rumo num ponto, mas até hoje sou influenciado pelo som que tirava com eles. Um deles faz graffiti ainda. Comecei quando tive vontade. A coisa vai mudando de cara. Me dei conta recentemente que nunca mais fiz freestyle numa roda na rua, estou sempre rimando com a porta do meu quarto fechada. Minhas rimas hoje são mais sérias do que antes. Isso não é necessariamente melhor ou pior. Como disse antes, é um reflexo do meu momento.

Para onde caminha o hip hop paulistano?
Eu gosto da introdução do primeiro álbum do Mos Def, na qual ele fala que "o Hip-Hop sou eu, você, todos nós. Então, da próxima vez que você se perguntar para onde vai o Hip-Hop, se pergunte: “Para onde eu estou indo?”, “Como eu estou?”. O Hip-Hop vai para onde as pessoas que o compõe forem. Eu só posso falar por mim mesmo, e não sou representativo. Sigo meu próprio caminho. Enquanto o que faço for chamado de Hip-Hop, muito bem. Quando não for, que me dêem outro nome, isso não é importante.

Conte como é sua relação com nomes importantes da cena hip hop, como Parteum, Rodrigo Audiolandro, Espião, entre outros?
Os três já eram fonte de inspiração antes de serem meus amigos, por serem músicos talentosos, criativos e inovadores. O Espião e o Rodrigo gravaram comigo no Progressivo. Os três têm alguma influência no meu som, pela música que fazem e pelas idéias que trocamos.

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