Friday, March 15, 2013

Trama Virtual - Sincronicidade EP

Sincronizando Rump 02/12/2009

Tiago Frúgoli, o progressivo Rump, lança EP que o coloca entre os principais nomes da nova safra do hip hop; baixe e confira entrevista

Por: Enrico Vacaro

Sincronicidade é o novo EP de Tiago Frúgoli, o Rump, músico e produtor paulistano. Apresentamos ele na seção Holofote, publicado no começo do ano, quando ele já tinha lançado, além de sua mixtape de estreia, Beats, Samples & Transições, dois álbuns: Progressivo e Pós-Gressivo, o segundo uma compilação de remixes do primeiro.

Através de Sincronicidade, EP - com cara de LP, já que são 12 faixas e 25 minutos – que Rump lançou nesta semana, com exclusividade TramaVirtual, o músico revela ter alcançado um novo estágio, não só como rimador, mas também como produtor. Temas mais melódicos, que não são obrigatoriamente presos a rimas, são freqüentes em Sincronicidade. Além disso, o EP é recheado de faixas instrumentais nas quais Rump toca teclado, produzindo batidas e melodias que criam ambientações ora puxadas pro eletrônico ora para o black/soul.

Professor de piano, estudante de mandarim e, principalmente, de hip hop, Rump continua sendo o progressivo de sempre, seguindo o lema de seu álbum do ano passado e negando de todas as formas a comodidade em que muitas vezes o hip hop nacional se apoia.

Baixe o EP aqui e leia a entrevista respondida por Tiago.


Primeiro você lançou o Progressivo, depois o Pós-Gressivo e agora o Sincronicidade. O que está por trás do nome e como o conceito dele se relaciona com os primeiros?
É engraçado, por que sempre tive certeza de que Sincronicidade seria o nome do disco, por causa de coisas que eu estava vivendo, mas não fiz nenhuma faixa com esse nome, nem falo essa palavra em nenhuma letra. É como se as músicas que fiz fossem uma espécie de estudo sobre a sincronicidade, mas de maneira bem indireta. No caso do Progressivo, tinha mais a ver com eu estar buscando rumos novos na música que faço. Pós-Gressivo foi só uma brincadeira com o nome, já que não era um álbum em si, mas uma compilação de remixes do disco anterior, faixas que não tinham entrado e algumas outras coisas.

O disco tem 12 faixas em pouco mais de 25 minutos. É um EP que é quase um LP? Como foi a concepção do disco em relação a seu formato?
É engraçado como o conceito mudou, mas, se você notar, depois que o CD passou a ser a mídia principal de música, todo álbum que era lançado em LP era duplo. Os 80 minutos do CD não cabem em um vinil só. E um EP é geralmente lançado em um vinil de 12 polegadas, como eram os álbuns de antigamente. Mas na verdade tudo isso importa cada vez menos. Quando o meio principal passa a ser a internet (e não estou dizendo necessariamente que já passou) todo esse conceito de álbum e limite de tempo muda de novo. Acredito que os singles vão ganhar mais força de novo, mas a verdade é que cresci ouvindo discos, álbuns completos, e gosto de produzir coisas nesse formato. Existem sons que fazem sentidos sozinhos, e outros que ganham força dentro de um contexto, como parte de uma história. Coloquei o nome de EP por que é mais curto do que a média dos álbuns de hoje.

Há em Sincronicidade temas mais melódicos do que nos álbuns anteriores, alguns até com vocais de vocoder. Esse é o caminho que mais te interessa hoje?
Eu sempre ouvi outras coisas além de Hip-Hop, e sempre tive vontade de gravar coisas diferentes. Não estou tentando reinventar o Hip-Hop, nem acho que quem faz RAP puro hoje em dia esteja limitado, só estou fazendo o que é mais natural para mim. Do mesmo jeito que gosto de Dilla e Pete Rock, gosto de Beatles e Stevie Wonder, então é natural que eu inclua elementos diferentes na minha música. Só estou tentando fazer o som que gosto de ouvir, desde o começo até hoje.

Qual é a história de D.R.E.A.M.? É um homenagem ao Wu-Tang Clan?
Legal, nem todo mundo pega essa referência. Na real, o que rolou foi o seguinte: eu sonhei com a melodia principal da base. Sonhei que estava cantando a melodia para umas amigas tocarem numa espécie de violão. E a última nota sai da escala, então eu tinha que chamar a atenção delas pra isso. Quando acordei, lembrei da melodia e resolvi gravar um beat com ela. Nunca gravo beats pensando que já vão pro disco, ou mesmo que vou rimar neles. Salvei o arquivo com o nome "dream", e quando fiz a letra resolvi fazer o refrão em referência ao som do Wu-Tang ("Cash Rules Everything Around Me...") e pontuar o título do mesmo jeito. Mas meus sons são cheios disso, referências empilhadas. Desconstruo uma rima do Espião, pego uma frase batida e troco as palavras, repito algo que ouvi num filme ou no ônibus...

Você ouve muito J Dilla e Madlib e está bastante envolvido com produção musical, de uma maneira que é rara em jovens da sua idade. Como produtor, qual foi sua evolução nos últimos anos?
Já falei em outras entrevistas que "bom" e "ruim", "melhor" e "pior" são conceitos relativos. Alguém pode achar que estou expandindo horizontes com esse EP, enquanto outra pessoa pode reclamar que menos da metade das faixas têm rimas, e perguntar o que uma faixa como "Not Enough" está fazendo lá. O que posso dizer é que venho me sentindo mais seguro. Enxergo com cada vez mais clareza que confiar no próprio ouvido é o mais importante. Ainda me sinto começando uma longa jornada de aprendizado nessa área, mas acho que quanto mais cedo as pesoas que querem fazer música perceberem isso, melhor. Existe uma visão que é só sua. Um jeito de ouvir as coisas e arranjar elementos que é só seu. Podemos aceitar isso ou passar a vida brigando com isso. Sinto que a maior parte dos músicos que chamamos diariamente de gênios foram pessoas que aceitaram o próprio modo de pensar a sua arte e não tiveram receio de mostrar sua visão para o mundo.

O disco tem várias faixas instrumentais. Como é o seu método de composição? Todas elas nascem instrumentais e algumas ganham rimas ou você já compõe pensando se haverá ou não vocal?
Como disse antes, não penso nem se vai para o disco ou não, nem se vou rimar ou cantar em cima. Se eu ficar planejando muito em cima de algo que está nascendo, mato a possibilidade de criar algo que vou gostar. Meus melhores beats vêm da descontração. Não quero dizer com isso que produzir não exija esforço. É sim necessário perder muito tempo, seja para aprender a achar os acordes no teclado, seja para sacar como tirar o som de bateria que você quer, como cortar samples... Mas sinto que na hora de produzir, o melhor é só focar em como posso juntar aqueles sons para criar algo que me agrade.

Você tem o costume de fazer vídeos com bastidores das gravações e teaser dos álbuns, o que eu acho bem bacana. Como eles têm te ajudado?
Acho que dão uma ajuda na divulgação. Interação entre mídias diferentes é o nome de jogo hoje. Algumas pessoas não entram num site de um artista que não conhecem para ouvir a música, mas até dão um play num vídeo postado num blog para ver do que se trata. Mas, mais do que por isso, faço os vídeos porque gosto de compartilhar um pouco dos bastidores da música que apresento. Hoje você não precisa necessariamente fazer um documentário de 1h30 e lançar um DVD. Você pode fazer vídeos de 3 ou 5 minutos, que você filma num dia, edita no segundo e as pessoas assistem no terceiro.

Planos para 2010?
Mais beats (independente dos projetos que forem ou não lançados), dar mais aulas de música, fazer mais aulas de música, aprender mais ideogramas chineses, passar mais tempo com a namorada... Continuar fazendo a música que gosto. Trabalhei na trilha de um curta há alguns meses, gostaria de pegar mais trampos assim também.



Fotos por Marina Frúgoli

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